Jesus de Nazaré, a Boa Notícia para o século 21 (26)
Multiplicar
os pães e caminhar sobre as águas (1)
1. Falamos sobre a premonição do fim trágico de Jesus de
Nazaré por ele se posicionar a favor dos mais pobres e necessitados contrariando
os desígnios das elites poderosas que exploram os mais fracos. E agora pretendemos
examinar: (1) o episódio da multiplicação dos pães; e (2) Jesus caminhar sobre
as águas, como elementos principais do Reino de Deus que ele instaurava. A
nossa leitura do milagre da multiplicação dos pães é a partir de um ponto de
vista que aceita este como a alternativa ao sistema capitalista neoliberal
reinante. De fato, há uma abundância de bens materiais no mundo que, distribuídos
usando como critério as necessidades reais dos seres humanos, satisfaz a todos
e deixa muita sobra ainda. No entanto percebemos que os poderosos favorecem
desde sempre o acumulo de bens materiais de acordo com sua capacidade
irrestrita de pilhar. Quanto à leitura do milagre de Jesus caminhar sobre o
mar, é preciso lembrar que o mar simboliza, na linguagem bíblica, realidades
variadas e que os impérios sempre fizeram questão de controlar o mar para
assegurar seu domínio dos espaços. Aqui o caminhar de Jesus sobre o mar aponta
para o projeto do Reino de Deus que transcende o esquema imperialista em sua
metodologia e resultados obtidos. Veremos que seu projeto foi e continua sendo algo
assustador até mesmo para seus discípulos.
2. Para falar sobre o
milagre da multiplicação dos pães, nós encontramos seis as narrativas desta nos
evangelhos (cf. Mc 6,30-44; 8,1-10; Mt 14,13-21; 15,32-39; Lc 9,10-17; João
6,1-14). Essa multiplicidade dos textos, sobre o “milagre” junto com outros
textos que falam das refeições e a comensalidade que Jesus praticava, hoje é
vistas pelos estudiosos como a preocupação que Jesus tinha sobre a questão das
necessidades básicas do ser humano. Nessas narrativas alguns elementos são
fundamentais, apesar dos detalhes variarem. Nós já vamos exemplificar alguns
deles antes de examinar os textos. Todos eles falam duma situação de
necessidade de alimentar a multidão. Jesus indica os discípulos como os responsáveis
para resolver essa situação. A solução convencional comercial capitalista de
comprar o necessário é descartada como não sendo prático, vendo a
indisponibilidade dos recursos financeiros. Na busca duma solução alternativa,
percebe-se que o que está disponível é aparentemente insuficiente diante da
grande necessidade. Então o Nazareno manda seus discípulos organizarem a
multidão de tal forma que cada um receba o necessário.
Há uma referência à atuação das comunidades eucarísticas na
transformação social pela menção feita dos gestos de Jesus tomar os pães e
peixes, agradecer e entregar aos discípulos para serem distribuídos a multidão.
Eles assim fizeram e todos comeram e ficaram satisfeitos. As sobras, uma quantia
considerável, são recolhidas e não desperdiçadas.
Terminada a distribuição dos pães, há um distanciamento
entre Jesus e seus discípulos; o rabino se afasta também da multidão. Os
discípulos vão de barco para o outro lado. Jesus vai ao reencontro com eles
caminhando sobre as águas num mar agitado. É um momento de tensão e uma
experiência assustadora para os discípulos quebrantados.
3. De acordo com o texto de Marcos (6,30-44) o milagre da
multiplicação dos pães aconteceu assim. Os discípulos voltaram da sua missão (cf.
Mc 6,6b-13) e estavam ansiosos para contar suas experiências missionárias a
Jesus. Mas, como apareceu muita gente a procura de Jesus, ele propôs que fossem
a um lugar sossegado. Foram de barco a um lugar assim, porém a multidão
antecipou-se e já estava aí quando Jesus chegou lá com seus missionários. Movido
por compaixão ensinava-lhes muitas coisas, visto que a situação do povo era a
de ovelhas sem pastor. Como o lugar era deserto e já tinha entardecido, seus
discípulos, preocupados com a alimentação do povo, pediu Jesus que ele
dispersasse a multidão a fim de que cada um providenciasse o necessário.
Mas Jesus encarregou os seus discípulos com a tarefa de
alimentar o povo. A reação dos discípulos foi a de reconhecer a impossibilidade
de cumprir a tarefa, pois não tinha dinheiro disponível para solução normal
capitalista de comprar o necessário para providenciar refeições para a multidão.
Tudo o que havia a disposição era muito pouco, apenas cinco pães e dois peixes.
Neste momento Jesus incumbiu os discípulos para organizar o povo em pequenos
grupos para que houvesse condições para cada um receber o necessário. O
resultado do seu trabalho: a multidão acomodou-se em pequenos grupos na relva.
Em seguida Jesus tomou os pães e peixes “realizou o gesto eucarístico” e os
entregou aos apóstolos que os distribuíram; todos (cinco mil homens) comeram e
ficaram satisfeitos. O que sobrou foi uma considerável quantia que foi
recolhida. Logo em seguida, de acordo com o texto de Marcos, Jesus obrigou os
discípulos irem de barco para a outra margem do lago enquanto ele despedia a
multidão. Ele mesmo, depois de despedir a multidão foi à montanha para rezar
(cf. Mc 6,45-57). A continuar...
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