Jesus de Nazaré, a Boa Notícia para o século 21 (24)
1. No Evangelho de Marcos há um episódio de Jesus acalmar a
tempestade no mar (cf. Mc 4,35-41; e seus paralelos Mt 8,23-27; Lc 8,22-24)
logo depois da parábola do semeador e as explicações dessa. Era costume
apresentar este ‘evento’ como prova da divindade de Jesus de Nazaré. Entretanto
abordagens literárias hodiernas da linguagem da Bíblia nos proporciona um
entendimento mais profundo do simbolismo do mar. O mar era considerado o lugar
de forças desconhecidas ou até mesmo maléficas; o império romano fazia questão dominava
o Mar Mediterrâneo e os países limítrofes. Na história recente o império
britânico dominava os oceanos (se dizia: “Britania rules the waves”=Bretanha
reina sobre os oceanos). E hoje Donald Trump discursa sobre o “Space Force” que
os EUA criarão para dominar o espaço.
Com esta introdução passamos a examinar o episódio de o
Nazareno acalmar a tempestade, acima referida, e o episódio que fala de Jesus
no território do gerasenos (cf. Mc 5,1-20; e seus paralelos: Mt 8,23-34; Lc
8,26-39).
2. Jesus, depois de contar a parábola do semeador e mostrar nas
explicações a diferença da compreensão desta, por aqueles que são comprometidos
como o Reino de Deus e por aqueles que optaram para ficar fora dele, pede aos
discípulos para irem à outra margem do lago. Eles assim fizeram. No entanto,
surgiu uma forte tempestade durante a travessia. O barco estava a ponto de
fundar. Jesus se encontrava adormecido; os discípulos, em pânico, apelaram a
ele para salvar suas vidas. O rabino deu ouvido ao seu pedido de socorro,
acalmou o vento; as ondas obedeceram a ele. Em seguida o Nazareno comentou sobre
o medo dos seus discípulos por falta de fé. Essa crítica gerou nos discípulos
grande perplexidade sobre sua personagem, pois perguntava entre si: “Quem é
este, a quem até o vento e o mar obedecem”? Percebe-se que os discípulos ainda
estavam dominados por forças a que Jesus vem submeter.
3. No próximo episódio, Jesus e seus discípulos já chegaram a
outro lado do mar, à região do gerasenos. Veio ao seu encontro um homem
possuído de um espírito mau. Ele era um elemento incontrolável. Tinham tentado
prendê-lo em correntes e algemas, mas ele rebentava-as facilmente. Ele vivia no
meio aos túmulos e as montanhas dia e noite gritando e machucando-se com
pedras.
Aqui é importante tomar conhecimento de uma “vaca sagrada”;
as badernas e vexames que marcam o sistema imperial capitalista. Seu deus “o
mercado” é facilmente manipulado pelos elementos de “Federal Reserve” ou “Bank
of England” ou similares, que praticam “insider trading” e outras praticas
insidiosas, numa suposto jogo de “forças de mercado” gerando inúmeras vítimas
no mundo inteiro. Ainda em nossos dias uma boa parte da população mundial passa
sua vida, igual este possuído de Gerasa, em situações de carência mortífera
como resultado dessas políticas imperialistas baseadas no capitalismo desumano.
Logo que viu Jesus o possuído correu até ele, ajoelhou-se
diante do Nazareno. Ele não parava de gritar que reconhecia sua identidade de
ser “Filho de Deus”, insistindo que não o atormentasse. Revelou seu nome como
“legião” (o nome da unidade militar do império romano) e pediu que não os
expulsasse para longe.
O novo habitat dos espíritos maus expulsos é a manada de
porcos que pastava por perto. Sem demora os porcos lançaram-se em direção ao
mar precipício abaixo e afogaram-se no mar. Os cuidadores dos porcos fugiram
para dar a notícia na cidade e nos campos. Os habitantes da região foram ver o
acontecido. Viram Jesus; o que era endemoninhado estava vestido e no seu
perfeito juízo.
Entretanto, ao serem informados sobre os detalhes do que
tinha acontecido com o possuído e os porcos, eles começaram a pedir Jesus que
ele deixasse seu território. Quando Jesus embarcava para ir embora dali, o
homem que tinha sido libertado da possessão pediu Jesus que o deixasse ficar
com ele. Mas Jesus não o deixou; orientou-o voltar para sua casa e anunciar sua
libertação aos seus. E ele anunciava a Boa Nova na região de Decápole. E todos
ficavam maravilhados.
4. No Evangelho de Mateus se fala de dois possuídos que vão
ao encontro de Jesus na terra dos gadarenos (cf. Mt 8,28-34). Nessa terra
estrangeira O Nazareno encontra com pessoas que são vítimas do imperialismo,
pois carregam, de maneira profunda, muitos efeitos e formas da dominação
imperialista. É notável que a intervenção libertadora do rabino Jesus envie os
poderes do mal para o fundo do mar. O episódio nos faz lembrar-se do destino do
exército egípcio que perseguia os israelitas liderados por Moisés. No entanto,
há tantos que se acostumaram tanto com a dominação, que não suportam que alguém
como Jesus permaneça entre eles! Será que o processo distorcido
jurídico-midiático-político, em percurso no Brasil, que procura eliminar, de
maneira nazifascista, um programa partidário que visa gerar igualitarismo, não
é uma versão atual da alienação que vitimas da dominação prolongada assim como
os gadarenos/gerasenos tinham sofrido no tempo de Jesus de Nazaré?
Nos
textos de Marcos e Lucas também lemos que o homem de quem tinham saído os
demônios pediu para ficar com Jesus, mas a instrução que ele recebe é: ficar no
meio do seu povo divulgando tudo o que Deus fez por ele. Será que não está na
hora para os materialmente beneficiados dos governos anteriores ao golpe
parlamentar contarem como o Brasil é capaz de resolver seus problemas sem se
entregar ao domínio do imperialismo capitalista e manter a mobilidade social
libertadora?
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