segunda-feira, 5 de novembro de 2018

O império rejeita o Reino de Deus


Jesus de Nazaré, a Boa Notícia para o século 21 (24)


1. No Evangelho de Marcos há um episódio de Jesus acalmar a tempestade no mar (cf. Mc 4,35-41; e seus paralelos Mt 8,23-27; Lc 8,22-24) logo depois da parábola do semeador e as explicações dessa. Era costume apresentar este ‘evento’ como prova da divindade de Jesus de Nazaré. Entretanto abordagens literárias hodiernas da linguagem da Bíblia nos proporciona um entendimento mais profundo do simbolismo do mar. O mar era considerado o lugar de forças desconhecidas ou até mesmo maléficas; o império romano fazia questão dominava o Mar Mediterrâneo e os países limítrofes. Na história recente o império britânico dominava os oceanos (se dizia: “Britania rules the waves”=Bretanha reina sobre os oceanos). E hoje Donald Trump discursa sobre o “Space Force” que os EUA criarão para dominar o espaço.

Com esta introdução passamos a examinar o episódio de o Nazareno acalmar a tempestade, acima referida, e o episódio que fala de Jesus no território do gerasenos (cf. Mc 5,1-20; e seus paralelos: Mt 8,23-34; Lc 8,26-39).

2. Jesus, depois de contar a parábola do semeador e mostrar nas explicações a diferença da compreensão desta, por aqueles que são comprometidos como o Reino de Deus e por aqueles que optaram para ficar fora dele, pede aos discípulos para irem à outra margem do lago. Eles assim fizeram. No entanto, surgiu uma forte tempestade durante a travessia. O barco estava a ponto de fundar. Jesus se encontrava adormecido; os discípulos, em pânico, apelaram a ele para salvar suas vidas. O rabino deu ouvido ao seu pedido de socorro, acalmou o vento; as ondas obedeceram a ele. Em seguida o Nazareno comentou sobre o medo dos seus discípulos por falta de fé. Essa crítica gerou nos discípulos grande perplexidade sobre sua personagem, pois perguntava entre si: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem”? Percebe-se que os discípulos ainda estavam dominados por forças a que Jesus vem submeter.

3. No próximo episódio, Jesus e seus discípulos já chegaram a outro lado do mar, à região do gerasenos. Veio ao seu encontro um homem possuído de um espírito mau. Ele era um elemento incontrolável. Tinham tentado prendê-lo em correntes e algemas, mas ele rebentava-as facilmente. Ele vivia no meio aos túmulos e as montanhas dia e noite gritando e machucando-se com pedras.

Aqui é importante tomar conhecimento de uma “vaca sagrada”; as badernas e vexames que marcam o sistema imperial capitalista. Seu deus “o mercado” é facilmente manipulado pelos elementos de “Federal Reserve” ou “Bank of England” ou similares, que praticam “insider trading” e outras praticas insidiosas, numa suposto jogo de “forças de mercado” gerando inúmeras vítimas no mundo inteiro. Ainda em nossos dias uma boa parte da população mundial passa sua vida, igual este possuído de Gerasa, em situações de carência mortífera como resultado dessas políticas imperialistas baseadas no capitalismo desumano.

Logo que viu Jesus o possuído correu até ele, ajoelhou-se diante do Nazareno. Ele não parava de gritar que reconhecia sua identidade de ser “Filho de Deus”, insistindo que não o atormentasse. Revelou seu nome como “legião” (o nome da unidade militar do império romano) e pediu que não os expulsasse para longe.

O novo habitat dos espíritos maus expulsos é a manada de porcos que pastava por perto. Sem demora os porcos lançaram-se em direção ao mar precipício abaixo e afogaram-se no mar. Os cuidadores dos porcos fugiram para dar a notícia na cidade e nos campos. Os habitantes da região foram ver o acontecido. Viram Jesus; o que era endemoninhado estava vestido e no seu perfeito juízo.
Entretanto, ao serem informados sobre os detalhes do que tinha acontecido com o possuído e os porcos, eles começaram a pedir Jesus que ele deixasse seu território. Quando Jesus embarcava para ir embora dali, o homem que tinha sido libertado da possessão pediu Jesus que o deixasse ficar com ele. Mas Jesus não o deixou; orientou-o voltar para sua casa e anunciar sua libertação aos seus. E ele anunciava a Boa Nova na região de Decápole. E todos ficavam maravilhados.

4. No Evangelho de Mateus se fala de dois possuídos que vão ao encontro de Jesus na terra dos gadarenos (cf. Mt 8,28-34). Nessa terra estrangeira O Nazareno encontra com pessoas que são vítimas do imperialismo, pois carregam, de maneira profunda, muitos efeitos e formas da dominação imperialista. É notável que a intervenção libertadora do rabino Jesus envie os poderes do mal para o fundo do mar. O episódio nos faz lembrar-se do destino do exército egípcio que perseguia os israelitas liderados por Moisés. No entanto, há tantos que se acostumaram tanto com a dominação, que não suportam que alguém como Jesus permaneça entre eles! Será que o processo distorcido jurídico-midiático-político, em percurso no Brasil, que procura eliminar, de maneira nazifascista, um programa partidário que visa gerar igualitarismo, não é uma versão atual da alienação que vitimas da dominação prolongada assim como os gadarenos/gerasenos tinham sofrido no tempo de Jesus de Nazaré?

      Nos textos de Marcos e Lucas também lemos que o homem de quem tinham saído os demônios pediu para ficar com Jesus, mas a instrução que ele recebe é: ficar no meio do seu povo divulgando tudo o que Deus fez por ele. Será que não está na hora para os materialmente beneficiados dos governos anteriores ao golpe parlamentar contarem como o Brasil é capaz de resolver seus problemas sem se entregar ao domínio do imperialismo capitalista e manter a mobilidade social libertadora?  

Nenhum comentário:

Postar um comentário