terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

O segundo anúncio da Paixão


Jesus de Nazaré, a Boa Notícia para o século 21 (32)
O Segundo anúncio da Paixão

Entre a primeiro anúncio da Paixão (cf. Mc 8,34-38) e o segundo, (cf. Mc 9,30-37) todos os três evangelhos sinóticos falam da transfiguração (cf. Mc 9,2-13 e paralelos) e a cura de um epilético (cf. Mc 9,14-29 e paralelos). Para entender a relação destes dois episódios ao anúncio da Paixão é importante ter em mente a intenção teológica de cada um dos evangelistas. Que Jesus de Nazaré, aquele que foi condenado e executado na cruz como um criminoso pela “justiça” imperialista, era muito mais do que se pensava dele, é evidente em todos os sinóticos com todos os seus detalhes diferentes.

A “transfiguração” (Mc 9,2-13; Mt17,1-13; Lc 9,28-36) é uma construção teológica das comunidades primitivas, a construção que evidencia seu avanço na compreensão da pessoa do “crucificado e ressuscitado”. Refere a um aspecto extraordinário e misterioso da experiência incompreensível, que Pedro, Tiago e João, assim como também os outros, tiveram do seu mestre. Para entender a transfiguração: montanha alta, a brancura extrema das roupas, a presença da nuvem, a voz do céu, que aqui afirma da filiação divina do Nazareno, são elementos típicos que denotam, na linguagem bíblica, a teofania desde os tempos veterotestamentários. A presença de Moisés e Elias apontam para outro momento hermenêutico avançado: Jesus é aquele que plenifica o desígnio divino na história humana na tradição do próprio Moisés e do Elias, dois personagens que tiveram papéis importantes neste processo.

Este texto também menciona outra tentativa da parte de Pedro, que visa impor seus interesses e desviar o foco da missão de Jesus, ao oferecer construir três tendas a fim de prolongar a situação vantajosa e até muito agradável. Essa proposta “petrina” está bem na linha do que ele propôs a Jesus que se tinha afastado depois da cura da sua sogra e de realizar outros milagres em Cafarnaum: “Todos te procuram” (cf. Mc 1,29-39). Pedro fez sua proposta apesar de estar “com medo” (Mc 9,6) e é interessante notar a diferença dos detalhes da reação de Pedro e seus companheiros a transfiguração nos outros dois evangelhos. Para Mateus: “Ao ouvir isso (a voz do Pai), os discípulos caíram com o rosto por terra e ficaram com muito medo” (Mt 17,6); enquanto Lucas nos disse que “Pedro ainda falava, quando veio uma nuvem e os cobriu com sua sobra. Ao entrarem na nuvem, ficaram com medo” (Lc 9,32).

Ao descer da montanha Jesus pede aos seus não contarem a ninguém do que tinha acontecido até que “o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos”. Eles assim fizeram, embora tivessem procurado entender melhor o que “ressuscitar dos mortos” significava. Há ainda uma conversa entre Jesus e seus três discípulos sobre o papel de Elias em relação a Jesus; essa resulta na afirmação em Mateus de que os discípulos chegaram a entender João Batista como o Elias que era esperado a voltar “para restaurar as coisas” (cf. Mt 17,10-13).

Passamos agora a examinar os textos que falam da cura do epilético. A narrativa em Marcos (9,14-29) é o maior do que a de Mateus ou Lucas. Da montanha Jesus volta para junto dos discípulos que se encontravam numa situação contenciosa, havia uma grande multidão e os doutores da Lei discutindo com eles. À sua pergunta sobre o motivo de tanta agitação, alguém da multidão reclamou de o insucesso deles expulsar o espírito mudo que atormentava seu filho.

O Nazareno se irrita com a incredulidade tão evidente naquela situação; pediu que trouxesse o menino a ele. Ao se aproximar o menino a Jesus o espírito maligno se exibiu violentamente, sacudindo sua vítima e jogando-o no chão. O pai do menino, além de responder as perguntas de Jesus sobre a duração desse caso a possessão, implorou a ajuda de Jesus, se ele pudesse. Jesus aproveita o momento para mostrar a necessidade da fé que torna tudo possível. Imediatamente o pai professou a sua fé: “Eu creio! Ajuda a minha falta de fé”.

Para muitos, o menino já estava morto, no entanto o texto, com detalhes típicos das curas que Jesus realiza, isto é - tomou-o pela mão, o levantou, e ele ficou de pé - reporta sua restauração a vida normal, apesar da confusão.

Mais tarde, quando Jesus entrou em casa, os discípulos queriam saber por que eles mesmos não foram capazes de expulsar o demônio. É que estavam preocupadíssimos com o alcance do seu próprio poder, muito menos com a adesão a Deus por meio de Jesus, que caminha para o confronto e da cruz!

É neste ambiente assombrado que Jesus faz o segundo anúncio da Paixão (cf. Mc 9,30-37; Mt 17,22-23; 18,1-5; Lc 9,43b-48). Jesus está atravessando a Galileia, sem que ninguém saiba do seu paradeiro. Ele ensina seus discípulos sobre seu fim trágico, de ser entregue aos seus adversários que o matarão “na forma da lei”. E, morto, ressuscitará depois de três dias. Os discípulos não entendiam o que isso queria dizer, e tinham medo de lhe perguntar.

Chegando em Cafarnaum Jesus perguntou-lhes sobre o que eles discutiam no caminho, porém ficaram calados, pois eles estavam discutindo sobre quem era o maior entre eles! Para enfatizar a necessidade deles se transformarem em “servidores” sem pretensões de grandeza, prestigio ou domínio para construir o Reino de Deus, Jesus acolheu uma criança carinhosamente.

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