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quarta-feira, 28 de novembro de 2018
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segunda-feira, 26 de novembro de 2018
Multiplicar os pães e caminhar sobre as águas (2)
Jesus de Nazaré, a Boa Notícia para o século 21 (26)
Multiplicar os pães e caminhar sobre as águas (2)
4. Continuamos examinando os textos que narram o milagre da
multiplicação dos pães. O Evangelho de Mateus, antes de apresentar o episódio
de multiplicação dos pães (Mt 14,13-21), nos explica primeiro o porquê de Jesus
decidir a ir a um lugar afastado. É a notícia da execução de João Batista (cf.
Mt 14,12). Ao chegar lá, encontra uma multidão já reunida a sua espera.
Encheu-se de compaixão por ela e curou dos doentes. Os detalhes da narrativa do
“milagre”, que aconteceu ao entardecer são semelhantes ao que temos na narrativa
de Marcos (cf. Mc 6,30-44). Diante da necessidade de alimentar uma multidão num
lugar afastado a solução tradicional capitalista comercial de comprar o
necessário é considerada inviável e Jesus manda seus discípulos organizar a
multidão para usufruir os parcos recursos disponíveis.
O gesto eucarístico
que vem em seguida enfatiza a radical novidade que a comunidade que celebra a Eucaristia
é capaz de efetuar na sociedade, pois ela vive a constante partilha dos
recursos disponíveis de acordo com critérios que Jesus de Nazaré aplicava na
sua práxis. Este comportamento anticapitalista vai fomentar revolução social pelo
critério usado: a necessidade de cada um e não a capacidade de alguns poucos
para acumular todo o possível. No entanto esse novo critério assegura a
satisfação das necessidades de todos e até deixa sobra considerável. Vale notar
que, desde sempre, as elites criminalizam qualquer atividade que implanta
igualitarismo por ela fazer com que os dominadores tradicionais perdessem seus
privilégios e mordomias.
5. Também no evangelho de Lucas, o texto que fala da multiplicação
dos pães (Lc 9,10-17) é posicionado depois dos textos que falam do retorno dos
discípulos da sua missão e o de receber a notícia da procura de Herodes, que
“queria ver Jesus” (Lc 9,7-9). É que este o vassalo hediondo dos imperialistas
romanos, tinha degolado João Batista, numa operação parecida com a “fraude-jato”
dos nossos dias. Numa versão primitiva desta operação fraudulenta que, em
nossos dias criminalizam as nossas lideranças políticas que usaram as
estruturas governamentais tradicionais, antes usadas para manter o povo
brasileiro em indigência, para melhorar a situação econômica dos mais pobres, Herodes
e seus “cidadãos de bem” silenciaram, ou imaginavam que tinham conseguido
silenciar tudo que João representava ao degolá-lo! É por isso que Herodes, quando
ficou sabendo das atividades de Jesus de Nazaré, ficou convencido de que o
Nazareno era o próprio João Batista ressuscitado e é por isso “queria ver
Jesus”.
Em seus detalhes o episódio é semelhante ao que já lemos nos
evangelhos de Marcos e Mateus. Resumidamente: Jesus procura afastar-se da multidão
e vai para o outro lado do lago para ter sossego (segurança?) e um momento com
seus discípulos só. Mas, a multidão já estava lá aguardando sua chegada. Jesus
acolheu a bondosamente, ensinou-lhe sobre o Reino de Deus e curou os que
precisavam. Ao entardecer os discípulos pedem Jesus para despedir a multidão; no
entanto ele confiou a eles a tarefa de alimentá-la. Diante da situação de
impossibilidade de aplicar a solução comum comercial capitalista, a narrativa
de Lucas nos diz que houve recurso à solução solidária, fraterna, igualitarista
que a Eucaristia promove. Os discípulos são autorizados para organizar a
multidão como também para fazer a distribuição equitativa; há suficiente para
suprir as necessidades de todos e tem sobra considerável.
6. Por sua vez o autor do Evangelho de João, que tem sua
própria Cristologia, apresenta a multiplicação dos pães (Jo 6,1-15) como o
quarto dos sete “sinais” que explicita o personagem do “verbo que se fez carne”,
isto é, Jesus de Nazaré. A narrativa se encontra depois do texto que trata da
cura controvertida do enfermo na beira da piscina num dia de sábado (cf. Jo
5,1-47), Este terceiro sinal, a cura, levanta contestações sobre a identidade e
a autoridade do Nazareno agir desta maneira inusitada. Entretanto Jesus insiste
na sua sintonia com o Pai para agir de maneira apropriada, mesmo no dia de
sábado, para proporcionar uma vida da qualidade para quem precisar, e assim
retomar o sentido original da observância do sábado (cf. Ex 16,29-30; 20,8 especialmente
a nota na Bíblia de Jerusalém). Contra a perseguição da parte dos seus
adversários “judeus”, Jesus invoca o testemunho de João Batista (cf. Jo
5,35ss), as Escrituras (cf. Jo 5,39ss) e o próprio Moisés (cf. Jo 5, 45ss) a
seu respeito.
É nesta situação tensa, próxima a Páscoa dos Judeus, mas
longe de Jerusalém, o centro de poder oficial, que Jesus realiza a
multiplicação dos pães. Há uma grande multidão que precisa ser alimentada. A
solução convencional comercial capitalista não é aplicável. O que está
disponível é considerado insuficiente, a primeira vista. A multidão é organizada
para cada um receber o necessário e prevenir e os mais astuciosos acumulem além
do que é necessário. Assim como nos sinóticos, aqui também são os discípulos
responsáveis pela nova ordem social e a distribuição dos pães após a realização
do gesto eucarístico. Todos comeram e ficaram satisfeitos e a sobra, uma
quantia considerável é recolhida.
O autor de João faz questão de nos informar que no sinal da
multiplicação dos pães que Jesus realizou, ele foi visto como “o Profeta que
vem ao mundo” e houve um movimento para fazer dele um rei e é por isso que ele
se retirou sozinho para a montanha. (cf. Jo 6,14-15). O Nazareno antecipou as
consequências do resultado desta leitura interesseira do seu messianismo. Podemos
afirmar que a reação de Jesus aponta para a radical novidade do Reino que ele
proclamava e sua incompatibilidade com o sistema tradicional de meritocrático vigente.
domingo, 18 de novembro de 2018
Multiplicar os pães e caminhar sobre as águas (1)
Jesus de Nazaré, a Boa Notícia para o século 21 (26)
Multiplicar
os pães e caminhar sobre as águas (1)
1. Falamos sobre a premonição do fim trágico de Jesus de
Nazaré por ele se posicionar a favor dos mais pobres e necessitados contrariando
os desígnios das elites poderosas que exploram os mais fracos. E agora pretendemos
examinar: (1) o episódio da multiplicação dos pães; e (2) Jesus caminhar sobre
as águas, como elementos principais do Reino de Deus que ele instaurava. A
nossa leitura do milagre da multiplicação dos pães é a partir de um ponto de
vista que aceita este como a alternativa ao sistema capitalista neoliberal
reinante. De fato, há uma abundância de bens materiais no mundo que, distribuídos
usando como critério as necessidades reais dos seres humanos, satisfaz a todos
e deixa muita sobra ainda. No entanto percebemos que os poderosos favorecem
desde sempre o acumulo de bens materiais de acordo com sua capacidade
irrestrita de pilhar. Quanto à leitura do milagre de Jesus caminhar sobre o
mar, é preciso lembrar que o mar simboliza, na linguagem bíblica, realidades
variadas e que os impérios sempre fizeram questão de controlar o mar para
assegurar seu domínio dos espaços. Aqui o caminhar de Jesus sobre o mar aponta
para o projeto do Reino de Deus que transcende o esquema imperialista em sua
metodologia e resultados obtidos. Veremos que seu projeto foi e continua sendo algo
assustador até mesmo para seus discípulos.
2. Para falar sobre o
milagre da multiplicação dos pães, nós encontramos seis as narrativas desta nos
evangelhos (cf. Mc 6,30-44; 8,1-10; Mt 14,13-21; 15,32-39; Lc 9,10-17; João
6,1-14). Essa multiplicidade dos textos, sobre o “milagre” junto com outros
textos que falam das refeições e a comensalidade que Jesus praticava, hoje é
vistas pelos estudiosos como a preocupação que Jesus tinha sobre a questão das
necessidades básicas do ser humano. Nessas narrativas alguns elementos são
fundamentais, apesar dos detalhes variarem. Nós já vamos exemplificar alguns
deles antes de examinar os textos. Todos eles falam duma situação de
necessidade de alimentar a multidão. Jesus indica os discípulos como os responsáveis
para resolver essa situação. A solução convencional comercial capitalista de
comprar o necessário é descartada como não sendo prático, vendo a
indisponibilidade dos recursos financeiros. Na busca duma solução alternativa,
percebe-se que o que está disponível é aparentemente insuficiente diante da
grande necessidade. Então o Nazareno manda seus discípulos organizarem a
multidão de tal forma que cada um receba o necessário.
Há uma referência à atuação das comunidades eucarísticas na
transformação social pela menção feita dos gestos de Jesus tomar os pães e
peixes, agradecer e entregar aos discípulos para serem distribuídos a multidão.
Eles assim fizeram e todos comeram e ficaram satisfeitos. As sobras, uma quantia
considerável, são recolhidas e não desperdiçadas.
Terminada a distribuição dos pães, há um distanciamento
entre Jesus e seus discípulos; o rabino se afasta também da multidão. Os
discípulos vão de barco para o outro lado. Jesus vai ao reencontro com eles
caminhando sobre as águas num mar agitado. É um momento de tensão e uma
experiência assustadora para os discípulos quebrantados.
3. De acordo com o texto de Marcos (6,30-44) o milagre da
multiplicação dos pães aconteceu assim. Os discípulos voltaram da sua missão (cf.
Mc 6,6b-13) e estavam ansiosos para contar suas experiências missionárias a
Jesus. Mas, como apareceu muita gente a procura de Jesus, ele propôs que fossem
a um lugar sossegado. Foram de barco a um lugar assim, porém a multidão
antecipou-se e já estava aí quando Jesus chegou lá com seus missionários. Movido
por compaixão ensinava-lhes muitas coisas, visto que a situação do povo era a
de ovelhas sem pastor. Como o lugar era deserto e já tinha entardecido, seus
discípulos, preocupados com a alimentação do povo, pediu Jesus que ele
dispersasse a multidão a fim de que cada um providenciasse o necessário.
Mas Jesus encarregou os seus discípulos com a tarefa de
alimentar o povo. A reação dos discípulos foi a de reconhecer a impossibilidade
de cumprir a tarefa, pois não tinha dinheiro disponível para solução normal
capitalista de comprar o necessário para providenciar refeições para a multidão.
Tudo o que havia a disposição era muito pouco, apenas cinco pães e dois peixes.
Neste momento Jesus incumbiu os discípulos para organizar o povo em pequenos
grupos para que houvesse condições para cada um receber o necessário. O
resultado do seu trabalho: a multidão acomodou-se em pequenos grupos na relva.
Em seguida Jesus tomou os pães e peixes “realizou o gesto eucarístico” e os
entregou aos apóstolos que os distribuíram; todos (cinco mil homens) comeram e
ficaram satisfeitos. O que sobrou foi uma considerável quantia que foi
recolhida. Logo em seguida, de acordo com o texto de Marcos, Jesus obrigou os
discípulos irem de barco para a outra margem do lago enquanto ele despedia a
multidão. Ele mesmo, depois de despedir a multidão foi à montanha para rezar
(cf. Mc 6,45-57). A continuar...
frases de dalai lama 1
“O período de maior ganho em conhecimento e experiência é o período mais difícil da vida de alguém”. Dalai Lama – monge, budista e tibetano.
segunda-feira, 12 de novembro de 2018
Premonição do fim trágico do Profeta Jesus
Premonição do fim trágico do Profeta Jesus
1. Examinamos os “milagres” de Jesus de Nazaré calmar a
tempestade no mar e a cura do possesso de Gerasa a partir de um ponto de vista
que leva em consideração as implicações da imagem do “mar” para a política
imperialista. Vimos que a tempestade acalmada causou medo e perplexidade entre
os discípulos (cf. Mc 4,41). A cura do possesso de Gerasa induziu os habitantes
da região pedir Jesus para sair do seu território, visto que os gerasenos valorizavam
mais seus porcos do que um concidadão libertado dos espíritos maus!
2. Agora analisaremos a cura da mulher hemorroíssa e a ressurreição
da menina (cf. Mc 5,21-43; Mt 9,18-26; Lc 8,40-56). Jesus, voltando da terra
dos gerasenos para o outro lado do mar encontra-se no meio de uma grande
multidão. Um dos chefes da sinagoga, Jairo, vem pedir socorro porque sua filha
está morrendo. Prontamente Jesus vai com ele e a multidão vai junto,
apertando-o de todos os lados.
De repente uma mulher que sofria de hemorragia durante doze
anos tocou na veste de Jesus e sentiu-se curada. Com efeito, ela tinha gasto
tudo o que tinha para custear seu tratamento médico, sem que haja nenhuma
melhora na sua condição. Ela ficou sabendo de Jesus, o rabino de Nazaré, e
movida pela sua fé e a esperança de cura, aproximou-se dele na anonimidade no
meio da multidão, tocou nele e sua fé foi amplamente recompensada. Entretanto,
Jesus percebeu que força tinha saído dele e faz o necessário, descartando os
protestos dos discípulos ignorantes, para tirar a mulher do seu anonimato e coloca-la
em evidência e elogiar sua fé.
Nisso chegaram emissários da casa de Jairo anunciando a
morte da menina. Não era mais preciso importunar o Mestre, disseram. Mas, Jesus,
que escutou a conversa, aconselhou o pai da menina a ter coragem e ter fé; continuou
sua caminhada para a casa da falecida, acompanhado apenas pelos três dos seus:
Pedro, Tiago e João. Lá em casa os ritos fúnebres já estavam em progresso. A
observação de Jesus de que a menina estava apenas dormindo e não estava morta,
só produziu zombaria geral.
Todavia, Jesus fez com que todos saíssem; tomou consigo o
pai e a mãe da criança junto com seus acompanhantes, entrou onde a criança
estava. Pegou-a pela mão e pediu-lhe para se levantar. Imediatamente a menina,
de doze anos, levantou-se e começou a andar. Jesus proibiu que divulgassem o
acontecido e que dessem de comer para a menina.
Há alguns elementos notáveis neste episódio. Protagonistas
neste relato são: uma mulher que sofria de hemorragia durante doze anos; a
outra é uma menina de doze anos, prestes, normalmente, para se tornar mulher,
mas agora é apenas um cadáver. A primeira, na sua condição de hemorroíssa, toca
em Jesus, se salva, porém tecnicamente torna Jesus “impuro”. A segunda é tocada
por Jesus e este contato físico restaura para ela a possiblidade de se tornar
mulher.
É conveniente recordar que naquele tempo a mulher era vítima
da desigualdade social que reinava. Ela era mais uma entre as posses do varão. As
duas da nossa história, isto é, a hemorroíssa e o cadáver, foram libertados das
suas condições de exclusão pelo encontro libertador com Jesus de Nazaré. Neste
processo libertador, o Nazareno, contrariou as leis da pureza em vigor. Não é este
fato que o autor quer nos comunicar com a frase: “Jesus ordenou expressamente
que ninguém soubesse disso?” Mais uma vez, Jesus se posiciona no lado dos necessitados,
contrariando as determinações dos poderosos tradicionais.
3. Na sequencia dos textos no Evangelho de Marcos está a
rejeição que Jesus sofre em Nazaré, sua terra natal (cf. Mc 6,1-6a; Mt
13,53-58; Lc 4,16-30). Ao voltar para Nazaré, depois de se tornar famoso, ele é
recebido com grande incredulidade. Boa parte da população, que pretendia
conhecer suas origens humildes, partilhava do preconceito de Natanael que fez a
pergunta: “De Nazaré pode vir algo de bom”? (Jo 1,46). Será que o que Jesus
enfrentou em Nazaré não é muito parecido com o que Ex-Presidente Lula sofre
hoje? Afinal, Lula como Presidente, fez acontecer no Brasil um milagre
socioeconômico (mundialmente reconhecido) para o enorme desgosto da elite
tradicional brasileira preconceituosa.
O texto de Marcos é sucinto, enquanto no Evangelho de Lucas
tem detalhes que evidenciam o perigo de vida que Jesus corria na sua terra
natal! O último versículo: “Jesus, porém, passando pelo meio deles, seguiu seu
caminho” (Lc 4,30) pede a ser entendido como o resultado do agir dos amigos e
simpatizantes da causa do Nazareno para protegê-lo dos esquemas nefastos das
elites; tomando nota de que ainda em nossos dias se manipulam e falsificam
processos judiciais além de abusar do poder de maneira que evidencia grande
carência de idoneidade, para eliminar aqueles que opõem aos seus esquemas criminosos
no poder.
4. Nesta situação é que Marcos nos reporta a missão do doze
(cf. Mc 6,6b-13; Mt 10,5-15; Lc 9,1-6). É uma medida que amplia o escopo do
trabalho de Jesus. O Nazareno deu aos seus missionários autoridade bastante
para realizar sua missão. Podemos resumir as instruções quanto à modalidade,
recursos etc. assim: providenciar o necessário e confiar na providência divina.
Os missionários partiram e pregavam para que todos mudassem de vida. Expulsavam
muito demônios e curavam doentes ungindo os com óleo.
5. Agora vem um texto de 16 versículos, um texto cumprido
pelos padrões do autor do Evangelho de Marcos; este texto conta a história da
execução de João Batista (cf. Mc 6,14-29; Mt 14,1-12; Lc 9,7-9). É um texto
extraordinário pelo seu poder evocativo e o profetismo. O rei Herodes, apenas
um vassalo do império romano, foi informado das atividades de Jesus de Nazaré.
Havia diversas opiniões sobre este rabino itinerante da Galileia. Uns o
identificavam com Elias, outros com um dos antigos profetas, agora
ressuscitado. Um terceiro grupo o identificou com João Batista, degolado por
Herodes, o mercenário dos imperialistas. O próprio Herodes aceitou essa
terceira opinião.
Herodes estava sempre atento a toda expressão de
insatisfação popular contra o sistema; no primeiro sinal de alguma expressão,
ele agia energicamente para coibir a possibilidade de revolta. Por sua parte,
João Batista tinha levantado muitas expectativas com suas criticas ao sistema
podre mantido pelo rei Herodes e a cúpula religiosa centrada no templo de
Jerusalém. O questionamento que João fez de Herodes por tomar sua cunhada
Herodíades para si, causou a prisão de João Batista.
Herodes ofereceu um banquete aos notáveis da Galileia na ocasião
do seu aniversário. Durante o evento, Salomé, a filha de Herodíades apresentou
um espetáculo de dança que conquistou a admiração dos presentes. O rei,
emocionado, prometeu presentear a moça com qualquer coisa que ela pediria.
Salomé consultou sua mãe e pediu a cabeça de João Batista num prato. Logo, a
mando do rei, carrascos decapitaram o profeta e trouxeram sua cabeça num prato
que a dançarina aceitou e levou para sua mãe que tinha motivos fortes para
fazer João perecer!
6. Que a carne do povo é devorada nos banquetes dos
poderosos é algo que encontramos já nos profetas antigos que condenavam as
praticas desumanas dos reis que governavam o povo de Deus (cf. Mq 3,3). Na ordem
em que o autor do Evangelho de Marcos posicionou este texto no seu texto, ele
serve como uma premonição do destino do Jesus, o profeta de Nazaré.
Entretanto, em meio à crueldade grosseira, horripilante dos
detalhes deste episódio, será que não surge uma alerta para nós? Nós vivemos um
momento de vitória de obscurantismo que promove a nova escravização do povo
brasileiro. Este obscurantismo (o neoliberalismo globalizado) utiliza as
reformas promovidas pelos que substituíram o governo legítimo em 2016 e agora por
aqueles que ganharam um pleito conduzido no estilo fraude-jato que continuarão
a tirar a carne dos pobres a devorar em suas festas suntuosas (lucros vultosos
para os mais ricos a custa de maior miséria pra os mais pobres). É possível por
alguém que segue Jesus escapar o fim trágico do próprio Jesus, se corajosamente
resistir às injustiças sociais hodiernas?
segunda-feira, 5 de novembro de 2018
O império rejeita o Reino de Deus
Jesus de Nazaré, a Boa Notícia para o século 21 (24)
1. No Evangelho de Marcos há um episódio de Jesus acalmar a
tempestade no mar (cf. Mc 4,35-41; e seus paralelos Mt 8,23-27; Lc 8,22-24)
logo depois da parábola do semeador e as explicações dessa. Era costume
apresentar este ‘evento’ como prova da divindade de Jesus de Nazaré. Entretanto
abordagens literárias hodiernas da linguagem da Bíblia nos proporciona um
entendimento mais profundo do simbolismo do mar. O mar era considerado o lugar
de forças desconhecidas ou até mesmo maléficas; o império romano fazia questão dominava
o Mar Mediterrâneo e os países limítrofes. Na história recente o império
britânico dominava os oceanos (se dizia: “Britania rules the waves”=Bretanha
reina sobre os oceanos). E hoje Donald Trump discursa sobre o “Space Force” que
os EUA criarão para dominar o espaço.
Com esta introdução passamos a examinar o episódio de o
Nazareno acalmar a tempestade, acima referida, e o episódio que fala de Jesus
no território do gerasenos (cf. Mc 5,1-20; e seus paralelos: Mt 8,23-34; Lc
8,26-39).
2. Jesus, depois de contar a parábola do semeador e mostrar nas
explicações a diferença da compreensão desta, por aqueles que são comprometidos
como o Reino de Deus e por aqueles que optaram para ficar fora dele, pede aos
discípulos para irem à outra margem do lago. Eles assim fizeram. No entanto,
surgiu uma forte tempestade durante a travessia. O barco estava a ponto de
fundar. Jesus se encontrava adormecido; os discípulos, em pânico, apelaram a
ele para salvar suas vidas. O rabino deu ouvido ao seu pedido de socorro,
acalmou o vento; as ondas obedeceram a ele. Em seguida o Nazareno comentou sobre
o medo dos seus discípulos por falta de fé. Essa crítica gerou nos discípulos
grande perplexidade sobre sua personagem, pois perguntava entre si: “Quem é
este, a quem até o vento e o mar obedecem”? Percebe-se que os discípulos ainda
estavam dominados por forças a que Jesus vem submeter.
3. No próximo episódio, Jesus e seus discípulos já chegaram a
outro lado do mar, à região do gerasenos. Veio ao seu encontro um homem
possuído de um espírito mau. Ele era um elemento incontrolável. Tinham tentado
prendê-lo em correntes e algemas, mas ele rebentava-as facilmente. Ele vivia no
meio aos túmulos e as montanhas dia e noite gritando e machucando-se com
pedras.
Aqui é importante tomar conhecimento de uma “vaca sagrada”;
as badernas e vexames que marcam o sistema imperial capitalista. Seu deus “o
mercado” é facilmente manipulado pelos elementos de “Federal Reserve” ou “Bank
of England” ou similares, que praticam “insider trading” e outras praticas
insidiosas, numa suposto jogo de “forças de mercado” gerando inúmeras vítimas
no mundo inteiro. Ainda em nossos dias uma boa parte da população mundial passa
sua vida, igual este possuído de Gerasa, em situações de carência mortífera
como resultado dessas políticas imperialistas baseadas no capitalismo desumano.
Logo que viu Jesus o possuído correu até ele, ajoelhou-se
diante do Nazareno. Ele não parava de gritar que reconhecia sua identidade de
ser “Filho de Deus”, insistindo que não o atormentasse. Revelou seu nome como
“legião” (o nome da unidade militar do império romano) e pediu que não os
expulsasse para longe.
O novo habitat dos espíritos maus expulsos é a manada de
porcos que pastava por perto. Sem demora os porcos lançaram-se em direção ao
mar precipício abaixo e afogaram-se no mar. Os cuidadores dos porcos fugiram
para dar a notícia na cidade e nos campos. Os habitantes da região foram ver o
acontecido. Viram Jesus; o que era endemoninhado estava vestido e no seu
perfeito juízo.
Entretanto, ao serem informados sobre os detalhes do que
tinha acontecido com o possuído e os porcos, eles começaram a pedir Jesus que
ele deixasse seu território. Quando Jesus embarcava para ir embora dali, o
homem que tinha sido libertado da possessão pediu Jesus que o deixasse ficar
com ele. Mas Jesus não o deixou; orientou-o voltar para sua casa e anunciar sua
libertação aos seus. E ele anunciava a Boa Nova na região de Decápole. E todos
ficavam maravilhados.
4. No Evangelho de Mateus se fala de dois possuídos que vão
ao encontro de Jesus na terra dos gadarenos (cf. Mt 8,28-34). Nessa terra
estrangeira O Nazareno encontra com pessoas que são vítimas do imperialismo,
pois carregam, de maneira profunda, muitos efeitos e formas da dominação
imperialista. É notável que a intervenção libertadora do rabino Jesus envie os
poderes do mal para o fundo do mar. O episódio nos faz lembrar-se do destino do
exército egípcio que perseguia os israelitas liderados por Moisés. No entanto,
há tantos que se acostumaram tanto com a dominação, que não suportam que alguém
como Jesus permaneça entre eles! Será que o processo distorcido
jurídico-midiático-político, em percurso no Brasil, que procura eliminar, de
maneira nazifascista, um programa partidário que visa gerar igualitarismo, não
é uma versão atual da alienação que vitimas da dominação prolongada assim como
os gadarenos/gerasenos tinham sofrido no tempo de Jesus de Nazaré?
Nos
textos de Marcos e Lucas também lemos que o homem de quem tinham saído os
demônios pediu para ficar com Jesus, mas a instrução que ele recebe é: ficar no
meio do seu povo divulgando tudo o que Deus fez por ele. Será que não está na
hora para os materialmente beneficiados dos governos anteriores ao golpe
parlamentar contarem como o Brasil é capaz de resolver seus problemas sem se
entregar ao domínio do imperialismo capitalista e manter a mobilidade social
libertadora?
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