quarta-feira, 11 de março de 2020

O fim inglorioso do Nazareno – o complô


Jesus de Nazaré – a Boa Nova para o século 21 (40)
O fim inglorioso do Nazareno – o complô


Fizemos um longo percurso examinando os textos dos quatro evangelhos para discernirmos os contornos do perfil Jesus de Nazaré apresentados nestes. Nós nos baseamos no Evangelho de Marcos principalmente. Onde foi possível nós fizemos referências aos textos paralelos nos outros evangelhos para elucidar melhor o sentido da atuação do profeta Jesus. Fizemos alguns comentários sobre a relevância da práxis de Jesus para o agir dos seus seguidores -discípulos missionários cidadãos – para os nossos dias. E agora está chegada a hora para falar da reação que às mudanças oriundas das práticas do Nazareno gerou.

A semana Santa faz memória, liturgicamente, dos acontecimentos considerados como reação negativa à práxis de Jesus. Os capítulos finais dos quatro evangelhos contam do fim do Nazareno. O que pretendemos fazer aqui é, baseando-nos no texto de Mc, comentar sobre os eventos que compõem o fim “inglorioso” do anunciador do Reino de Deus.

O conteúdo desses capítulos que contam a história do fim do Nazareno pode ser subdividido de acordo com o episódio que cada perícope trata. De fato, as edições das traduções modernas da Bíblia têm essas divisões, até legendadas, para ajudar o leitor compreender melhor os acontecimentos. Aqui nós vamos usar, como fizemos até agora, o mesmo esquema usado na Nova Bíblia Pastoral.
Para não forçar a atenção do nosso leitor excessivamente não vamos apresentar uma enumeração dos episódios. Vamos direto para o primeiro: este nos informa do complô para matar Jesus. Fico em Mc 14,1-2. Bem perto da Páscoa os chefes dos sacerdotes e os doutores da Lei procuravam alguma cilada para prender Jesus e matá-lo, sem causar tumulto entre o povo durante a festa, visto que o Nazareno era imensamente popular.

No texto paralelo em Mt (26,1-6) há o mesmo conteúdo, com alguns acréscimos significativos. Primeiro desses é: o complô é articulado numa reunião na sala do sumo sacerdote. Segundo, é a profecia que o próprio Jesus pronuncia sobre a entrega do Filho do Homem dentro de dois dias, que precede o relato do encontro dos conspiradores.

O texto de Lc (22,1-2) repete, literalmente, o conteúdo de Mc. Entretanto o Evangelho de João tem muitos detalhes, sobre que passou na reunião que decretou a morte de Jesus de Nazaré, que os outros evangelhos não têm (cf. Jo 11,45-47). Ao saber deste decreto Jesus se retirou para a região desértica. Depois, os muitos peregrinos que vinham a Jerusalém para celebrar a Páscoa procuravam encontrar Jesus sem sucesso. O autor faz menção da ordem da parte das autoridades que obrigava a todos a informar sobre o paradeiro de Jesus para auxiliar na sua prisão pois, o Nazareno tinha se tornado uma ameaça ao sistema tradicional.

Aqui é necessário lembrar-se de que houve também diversas tentativas anteriores para matar Jesus, o profeta de Nazaré, de acordo com os textos dos evangelhos canônicos. A primeira, é o atentado de rei Herodes quando Jesus ainda era um recém-nascido (cf. Mt 2). Os pais de Jesus recebendo o auxílio divino (sonho-anjos) fugiram para o Egito e assim salvou sua vida. O Evangelho de Marcos nos fala da consulta que os fariseus e os herodianos fizeram para encontrarem algum modo de matar Jesus, pois ele interpretava a lei de observância do sábado favorecendo o atendimento às necessidades dos fracos e fragilizados, e isto, de maneira ameaçadora ao sistema tradicional que garantiam os privilégios das elites tradicionais. Diante disso Jesus se retirou com seus discípulos para a região beira-mar (Mc. 3,1-7a).

Jesus na sinagoga de Nazaré (Lc. 4, 16-30) é outro momento de perigo mortal. Percebe-se neste texto que houve uma divisão entre os presentes. Havia aqueles que ficaram admirados com as palavras cheias de graça que saíram de sua boca. O segundo grupo era daqueles que questionavam sua práxis: “Não é este o filho de José?” E estes o expulsaram da cidade, e o levaram até o alto do moro sobre o qual a cidade estava construído, para fazê-lo cair lá de cima, mas ele passando por meio deles, seguia seu caminho.

Desta visita a sinagoga de Nazaré falam também os evangelhos de Marcos e Mateus. No texto de Mc (6,1-6a) se diz que seus ouvintes, admirados no primeiro momento, com sua sabedoria e os milagres que ele realizava, ficavam “escandalizados por causa dele”. O texto de Mateus não é muito diferente do que o de Marcos.

Para examinar os textos do Evangelho de João a este respeito, é necessário fazer algumas observações primeiro. O texto de João, na sua primeira parte, apresenta os sete sinais que evidenciam o personagem do “verbo que se fez carne e habitou entre nós”, Jesus de Nazaré. O autor registra a reação que cada um dos sinais realizados gera. Já no terceiro sinal anota-se a hostilidade mortal dos “judeus” à cura do enfermo na piscina num dia de sábado (Jo 5,1-18). O quarto e o quinto sinais não produziram perigo mortal corporalmente, porém o perigo é de sérios desvios do seu caminho escolhido para que o Profeta itinerante de Nazaré pudesse ser usado a servir os interesses do sistema tradicional (cf. Jo. 6,14-15). O capítulo sétimo de João reporta a conversa de Jesus com seus adversários sobre a interpretação da lei do (Jo 7,14-24). Os versículos 25-52 falam da tentativa frustrada de prender Jesus porque os guardas enviados para prendê-lo não deram conta de cumprir as ordens recebidas.

O sexto sinal é a cura do cego do nascimento, realizado num dia de sábado provocando a ira das elites e ao mesmo tempo a condenação que Jesus pronuncia da sua cegueira (Jo 10).  

Da reação à sétimo sinal, falamos agora. Jesus ressuscita Lázaro. Ao ficar sabendo do acontecido os fariseus reuniram o Conselho; houve uma análise da situação diante do fato e tomaram a decisão de eliminar Jesus uma vez por todas (Jo 11,53). Aqui é necessário acrescentar algo que nós encontramos em 12,9-12, isto é, a decisão dos chefes dos sacerdotes de matar também Lazaro, pois, muitos judeus se afastaram da religião tradicional e acreditaram em Jesus por causa de Lázaro.

O complô para acabar com o profeta de Nazaré tem sua própria história. De fato, a classe dominante Palestinense precisou se empenhar bastante para poder planejar o fim inglorioso de Jesus de Nazaré. Da execução deste plano e os elementos que colaboraram, falaremos agora em diante.



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