Jesus
de Nazaré – a Boa Nova para o século 21 (40)
O fim
inglorioso do Nazareno – o complô
Fizemos um longo percurso examinando os textos dos quatro evangelhos
para discernirmos os contornos do perfil Jesus de Nazaré apresentados nestes.
Nós nos baseamos no Evangelho de Marcos principalmente. Onde foi possível nós
fizemos referências aos textos paralelos nos outros evangelhos para elucidar
melhor o sentido da atuação do profeta Jesus. Fizemos alguns comentários sobre
a relevância da práxis de Jesus para o agir dos seus seguidores -discípulos
missionários cidadãos – para os nossos dias. E agora está chegada a hora para
falar da reação que às mudanças oriundas das práticas do Nazareno gerou.
A semana Santa faz memória, liturgicamente, dos acontecimentos
considerados como reação negativa à práxis de Jesus. Os capítulos finais dos quatro
evangelhos contam do fim do Nazareno. O que pretendemos fazer aqui é, baseando-nos
no texto de Mc, comentar sobre os eventos que compõem o fim “inglorioso” do
anunciador do Reino de Deus.
O conteúdo desses capítulos que contam a história do fim do
Nazareno pode ser subdividido de acordo com o episódio que cada perícope trata.
De fato, as edições das traduções modernas da Bíblia têm essas divisões, até
legendadas, para ajudar o leitor compreender melhor os acontecimentos. Aqui nós
vamos usar, como fizemos até agora, o mesmo esquema usado na Nova Bíblia
Pastoral.
Para não forçar a atenção do nosso leitor excessivamente não
vamos apresentar uma enumeração dos episódios. Vamos direto para o primeiro: este
nos informa do complô para matar Jesus. Fico em Mc 14,1-2. Bem perto da Páscoa
os chefes dos sacerdotes e os doutores da Lei procuravam alguma cilada para
prender Jesus e matá-lo, sem causar tumulto entre o povo durante a festa, visto
que o Nazareno era imensamente popular.
No texto paralelo em Mt (26,1-6) há o mesmo conteúdo, com alguns
acréscimos significativos. Primeiro desses é: o complô é articulado numa
reunião na sala do sumo sacerdote. Segundo, é a profecia que o próprio Jesus pronuncia
sobre a entrega do Filho do Homem dentro de dois dias, que precede o relato do encontro
dos conspiradores.
O texto de Lc (22,1-2) repete, literalmente, o conteúdo de
Mc. Entretanto o Evangelho de João tem muitos detalhes, sobre que passou na
reunião que decretou a morte de Jesus de Nazaré, que os outros evangelhos não
têm (cf. Jo 11,45-47). Ao saber deste decreto Jesus se retirou para a região
desértica. Depois, os muitos peregrinos que vinham a Jerusalém para celebrar a
Páscoa procuravam encontrar Jesus sem sucesso. O autor faz menção da ordem da
parte das autoridades que obrigava a todos a informar sobre o paradeiro de
Jesus para auxiliar na sua prisão pois, o Nazareno tinha se tornado uma ameaça
ao sistema tradicional.
Aqui é necessário lembrar-se de que houve também diversas
tentativas anteriores para matar Jesus, o profeta de Nazaré, de acordo com os
textos dos evangelhos canônicos. A primeira, é o atentado de rei Herodes quando
Jesus ainda era um recém-nascido (cf. Mt 2). Os pais de Jesus recebendo o auxílio
divino (sonho-anjos) fugiram para o Egito e assim salvou sua vida. O Evangelho
de Marcos nos fala da consulta que os fariseus e os herodianos fizeram para
encontrarem algum modo de matar Jesus, pois ele interpretava a lei de observância
do sábado favorecendo o atendimento às necessidades dos fracos e fragilizados, e
isto, de maneira ameaçadora ao sistema tradicional que garantiam os privilégios
das elites tradicionais. Diante disso Jesus se retirou com seus discípulos para
a região beira-mar (Mc. 3,1-7a).
Jesus na sinagoga de Nazaré (Lc. 4, 16-30) é outro momento
de perigo mortal. Percebe-se neste texto que houve uma divisão entre os
presentes. Havia aqueles que ficaram admirados com as palavras cheias de graça
que saíram de sua boca. O segundo grupo era daqueles que questionavam sua
práxis: “Não é este o filho de José?” E estes o expulsaram da cidade, e o
levaram até o alto do moro sobre o qual a cidade estava construído, para
fazê-lo cair lá de cima, mas ele passando por meio deles, seguia seu caminho.
Desta visita a sinagoga de Nazaré falam também os evangelhos
de Marcos e Mateus. No texto de Mc (6,1-6a) se diz que seus ouvintes, admirados
no primeiro momento, com sua sabedoria e os milagres que ele realizava, ficavam
“escandalizados por causa dele”. O texto de Mateus não é muito diferente do que
o de Marcos.
Para examinar os textos do Evangelho de João a este
respeito, é necessário fazer algumas observações primeiro. O texto de João, na
sua primeira parte, apresenta os sete sinais que evidenciam o personagem do
“verbo que se fez carne e habitou entre nós”, Jesus de Nazaré. O autor registra
a reação que cada um dos sinais realizados gera. Já no terceiro sinal anota-se a
hostilidade mortal dos “judeus” à cura do enfermo na piscina num dia de sábado (Jo
5,1-18). O quarto e o quinto sinais não produziram perigo mortal corporalmente,
porém o perigo é de sérios desvios do seu caminho escolhido para que o Profeta
itinerante de Nazaré pudesse ser usado a servir os interesses do sistema
tradicional (cf. Jo. 6,14-15). O capítulo sétimo de João reporta a conversa de
Jesus com seus adversários sobre a interpretação da lei do (Jo 7,14-24). Os
versículos 25-52 falam da tentativa frustrada de prender Jesus porque os
guardas enviados para prendê-lo não deram conta de cumprir as ordens recebidas.
O sexto sinal é a cura do cego do nascimento, realizado num
dia de sábado provocando a ira das elites e ao mesmo tempo a condenação que
Jesus pronuncia da sua cegueira (Jo 10).
Da reação à sétimo sinal, falamos agora. Jesus ressuscita
Lázaro. Ao ficar sabendo do acontecido os fariseus reuniram o Conselho; houve
uma análise da situação diante do fato e tomaram a decisão de eliminar Jesus uma
vez por todas (Jo 11,53). Aqui é necessário acrescentar algo que nós
encontramos em 12,9-12, isto é, a decisão dos chefes dos sacerdotes de matar
também Lazaro, pois, muitos judeus se afastaram da religião tradicional e
acreditaram em Jesus por causa de Lázaro.
O complô para acabar com o profeta de Nazaré tem sua própria
história. De fato, a classe dominante Palestinense precisou se empenhar bastante
para poder planejar o fim inglorioso de Jesus de Nazaré. Da execução deste
plano e os elementos que colaboraram, falaremos agora em diante.
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