Jesus
de Nazaré – a Boa Nova para o século 21 (40)
2.
O fim inglorioso do Nazareno – Uns preparativos
1.
Logo depois de falar do complô para matar Jesus, o Evangelho de
Marcos nos apresenta o episódio de unção de Jesus em Betânia (Mc
14,3-9). Jesus está à mesa na casa de Simão, o leproso. Durante a
refeição uma mulher (anônima) irrompe a sala do banquete com um
frasco de perfume caro e o
derrama
na cabeça do
Nazareno.
Sua ação causa indignação entre “alguns” dos que estavam
presentes, pelo que consideram um imperdoável desperdício. Na sua
opinião o perfume poderia ter sido vendido por um preço alto e o
dinheiro aplicado no cuidado dos necessitados. Entretanto, Jesus
defende o gesto da mulher, interpretando sua ação como antecipação
dos preparativos do seu sepultamento. O Nazareno também denuncia a
hipocrisia, evidente nessa preocupação demasiada com os pobres. Os
pobres sempre estiveram e estarão presentes no mundo e nunca faltou
recursos necessários para cuidar do bem-estar deles. Só é que os
critérios humanos de distribuição dos bens materiais sempre
manteve uma porção considerável da humanidade em condições de
miséria. Jesus também prediz que o gesto profético da mulher será
lembrado em todos os lugares onde a Boa Nova do Reino for proclamada.
O
texto que fala da unção em Betânia, em Mateus, também está
posicionado logo depois do que fala do complô para matar Jesus. Os
detalhes são os mesmos do texto de Marcos, com um detalhe diferente:
a indignação causada pelo “desperdício” de perfume caríssimo
é entre “os discípulos”.
O
Evangelho de Lucas não fala da unção. Logo depois de falar do
complô para matar Jesus, Judas Iscariotes foi apresentar sua
proposta de entregar Jesus aos chefes dos sacerdotes e os chefes da
guarda e combinar a maneira de fazê-lo. Estes ofereceram dinheiro
pelo seu serviço e a partir daquele momento ele procurava o momento
oportuno para entregar Jesus, sem que o povo perceba. O autor faz
questão de resumir tudo o que motivou Iscariotes agir dessa maneira
na frase: “Satanás entrou em Judas” (Lc 22, 3-6).
Os
detalhes da unção em Betânia em João (Jo 12,1-8) têm muitos
detalhes a mais que nos ajudam a sentirmos a dramaticidade do
momento. Ofereceram Jesus um jantar em Betânia; Marta servia, e
Lázaro, aquele que Jesus tinha ressuscitado, estava à mesa com
Jesus. É Maria que unge os pés do Nazareno com o perfume precioso.
Quem fica irado com o “desperdício” é Judas Iscariotes, aquele
que trairia Jesus. O autor faz questão de comentar que Judas não
era amante dos pobres, porém tomava para si o que era depositado na
bolsa comum, pois era ladrão. A reação de Jesus aqui é a mesma
como nos outros evangelhos.
2.
Na sequência, nós temos notícias nos evangelhos de Marcos e Mateus
do pacto que Judas Iscariotes, um dos doze, foi fazer com as elites.
Ele se dirigiu aos sumos sacerdotes com a proposta de entregar Jesus.
Estes ficaram alegres de ter seu auxílio na execução do plano de
matar o Nazareno. Ofereceram-lhe dinheiro. A partir deste momento
Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus.
É
impressionante, as autoridades judaicas agora podem contar com a
colaboração que precisavam para acabar com o rabino de Galileia que
os incomodava tanto. Tal colaboração vem de alguém do grupo íntimo
do próprio Nazareno. O projeto de eliminar o profeta galileu
itinerante que se arrastava até agora recebe o estímulo que
precisava! Aqui vale notar que o gesto da solidariedade da mulher que
ungiu Jesus não tem preço, enquanto o preço da colaboração de
Judas Iscariotes é trinta moedas de prata; ele se deixa vender por
dinheiro.
3.
Os evangelhos sinóticos apresentam nesta conjuntura os preparativos
para a celebração de ceia pascal de Jesus de Nazaré e seus
discípulos. De fato, seus discípulos perguntam sobre onde e como
organizar a ceia pascal. Ele envia dois deles a um homem da cidade,
sem citar seu nome, porém indicando sinais para identificá-lo. Os
discípulos foram, reconheceram-no, o seguiram até a sua casa e
perguntarem sobre o local onde Jesus Nazareno e seus discípulos
comeriam a ceia pascal. Eles prepararam tudo para Jesus e seus
comerem a ceia pascal na sala superior que o homem os mostrara (Mc.
14,12-16). O Evangelho de Mateus tem os mesmos detalhes do texto de
Mc sobre os preparativos para comer a ceia pascal (Mt. 26,17-19). A
narrativa de Lucas não é diferente também.
4.
Nós já estamos prontos para analisar os textos que falam da última
ceia, uma refeição da qual se cultiva a memória desde então,
vinte séculos atrás, pelas comunidades cristãs ainda hoje. Isto
fica para o próximo.
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