sábado, 21 de março de 2020


Jesus de Nazaré – a Boa Nova para o século 21 (40)
2. O fim inglorioso do Nazareno – Uns preparativos


1. Logo depois de falar do complô para matar Jesus, o Evangelho de Marcos nos apresenta o episódio de unção de Jesus em Betânia (Mc 14,3-9). Jesus está à mesa na casa de Simão, o leproso. Durante a refeição uma mulher (anônima) irrompe a sala do banquete com um frasco de perfume caro e o derrama na cabeça do Nazareno. Sua ação causa indignação entre “alguns” dos que estavam presentes, pelo que consideram um imperdoável desperdício. Na sua opinião o perfume poderia ter sido vendido por um preço alto e o dinheiro aplicado no cuidado dos necessitados. Entretanto, Jesus defende o gesto da mulher, interpretando sua ação como antecipação dos preparativos do seu sepultamento. O Nazareno também denuncia a hipocrisia, evidente nessa preocupação demasiada com os pobres. Os pobres sempre estiveram e estarão presentes no mundo e nunca faltou recursos necessários para cuidar do bem-estar deles. Só é que os critérios humanos de distribuição dos bens materiais sempre manteve uma porção considerável da humanidade em condições de miséria. Jesus também prediz que o gesto profético da mulher será lembrado em todos os lugares onde a Boa Nova do Reino for proclamada.

O texto que fala da unção em Betânia, em Mateus, também está posicionado logo depois do que fala do complô para matar Jesus. Os detalhes são os mesmos do texto de Marcos, com um detalhe diferente: a indignação causada pelo “desperdício” de perfume caríssimo é entre “os discípulos”.

O Evangelho de Lucas não fala da unção. Logo depois de falar do complô para matar Jesus, Judas Iscariotes foi apresentar sua proposta de entregar Jesus aos chefes dos sacerdotes e os chefes da guarda e combinar a maneira de fazê-lo. Estes ofereceram dinheiro pelo seu serviço e a partir daquele momento ele procurava o momento oportuno para entregar Jesus, sem que o povo perceba. O autor faz questão de resumir tudo o que motivou Iscariotes agir dessa maneira na frase: “Satanás entrou em Judas” (Lc 22, 3-6).

Os detalhes da unção em Betânia em João (Jo 12,1-8) têm muitos detalhes a mais que nos ajudam a sentirmos a dramaticidade do momento. Ofereceram Jesus um jantar em Betânia; Marta servia, e Lázaro, aquele que Jesus tinha ressuscitado, estava à mesa com Jesus. É Maria que unge os pés do Nazareno com o perfume precioso. Quem fica irado com o “desperdício” é Judas Iscariotes, aquele que trairia Jesus. O autor faz questão de comentar que Judas não era amante dos pobres, porém tomava para si o que era depositado na bolsa comum, pois era ladrão. A reação de Jesus aqui é a mesma como nos outros evangelhos.

2. Na sequência, nós temos notícias nos evangelhos de Marcos e Mateus do pacto que Judas Iscariotes, um dos doze, foi fazer com as elites. Ele se dirigiu aos sumos sacerdotes com a proposta de entregar Jesus. Estes ficaram alegres de ter seu auxílio na execução do plano de matar o Nazareno. Ofereceram-lhe dinheiro. A partir deste momento Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus.

É impressionante, as autoridades judaicas agora podem contar com a colaboração que precisavam para acabar com o rabino de Galileia que os incomodava tanto. Tal colaboração vem de alguém do grupo íntimo do próprio Nazareno. O projeto de eliminar o profeta galileu itinerante que se arrastava até agora recebe o estímulo que precisava! Aqui vale notar que o gesto da solidariedade da mulher que ungiu Jesus não tem preço, enquanto o preço da colaboração de Judas Iscariotes é trinta moedas de prata; ele se deixa vender por dinheiro.

3. Os evangelhos sinóticos apresentam nesta conjuntura os preparativos para a celebração de ceia pascal de Jesus de Nazaré e seus discípulos. De fato, seus discípulos perguntam sobre onde e como organizar a ceia pascal. Ele envia dois deles a um homem da cidade, sem citar seu nome, porém indicando sinais para identificá-lo. Os discípulos foram, reconheceram-no, o seguiram até a sua casa e perguntarem sobre o local onde Jesus Nazareno e seus discípulos comeriam a ceia pascal. Eles prepararam tudo para Jesus e seus comerem a ceia pascal na sala superior que o homem os mostrara (Mc. 14,12-16). O Evangelho de Mateus tem os mesmos detalhes do texto de Mc sobre os preparativos para comer a ceia pascal (Mt. 26,17-19). A narrativa de Lucas não é diferente também.

4. Nós já estamos prontos para analisar os textos que falam da última ceia, uma refeição da qual se cultiva a memória desde então, vinte séculos atrás, pelas comunidades cristãs ainda hoje. Isto fica para o próximo.


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