segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Como matar Jesus?


Jesus a Boa Nova para o século 21 (19)
Como matar Jesus?

1. Com o trecho que reporta a cura da mão paralisada (cf. Mc 3,1-7a) encerra-se um primeiro bloco no texto de Evangelho de Marcos (cf. Mc 1,21-3,7a). Este bloco exemplifica a práxis de Jesus de Nazaré, quer dizer, suas atividades em benefício dos mais sofridos, fragilizados e excluídos assim como sua maneira de interpretar as leis e tradições para a mesma finalidade, que deixavam as elites dos seus dias mortalmente angustiados e por isso mesmo decidiram mata-lo (Mc 3,6).
Vamos fazer uma breve descrição do episódio que levou os poderosos tomar essa decisão sobre o Jesus de Nazaré. Outra vez, Jesus está na sinagoga num dia de sábado. Havia aí um homem com a mão paralisada. O autor nos informa que os representantes das elites estavam presentes, de olho para ver se Jesus curava o homem num dia de sábado para poderem acusa-lo de infringir a lei o sábado. Ciente da armadilha montada, o rabino Jesus pediu o homem para se posicionar no meio, onde todo mundo podia ver-lhe, assim pondo em evidência necessidades humanas que as autoridades devem atender com urgência.

Uma vez que o problema foi realçado, o rabino Jesus fez uma pergunta crucial que tinha a ver com a observância tradicional do sábado. Seria permitido fazer o bem ou o mal no dia de sábado; aplicar as leis em prol de salvar uma vida ou para tira-la? Porém nada responderam os presentes, essa desumanidade manifesta deixou o Nazareno irado. Ele lançou “um olhar de indignação” sobre eles, ele ficou triste por causa da dureza do coração deles, contudo curou o homem da mão paralisada. Logo que saíram daí, os fariseus procuraram os herodianos e iniciaram uma consulta para arrumar meios de matar Jesus. Por sua parte, Jesus retirou-se do local para a beira do mar.

É conveniente recordar aqui que noutro episódio, no início deste bloco, o da cura do leproso (cf. Mc 1,40-45) o evangelista reportava que Jesus ficou “irado” antes de estender sua mão, tocar no leproso para curá-lo. Pelo que ele fez, Jesus desafia radicalmente os sistemas políticos, econômicos, sociais e religiosos que procuram manter o povo excluído, fragilizado e dominado para se manter no poder.
2. O texto de Mateus que nos conta deste episódio (Mt 12,9-15a) tem o mesmo esquema. A diferença é que são aqueles que tramaram contra Jesus que fazem a pergunta sobre o cabimento de curar no dia de sábado. Na sua resposta o rabino mostra que as leis, inclusive as da observância de sábado, devem estar a serviço da vida humana. Para reforçar seu esclarecimento, ele citou a prática comum de salvar os animais, que porventura caiam nos buracos, mesmo no dia de sábado. Em seguida curou o homem da mão paralisada, o que levou seus adversários fariseus furiosos, que viram seu domínio ameaçado, se reunir para planejar um modo de matar Jesus. Sabendo disso Jesus se afastou daquele lugar.

3. O texto de Lucas (Lc 6,6-11) faz menção, especificamente, da presença dos fariseus e dos doutores da Lei que observavam Jesus para ver se ele curava no dia de sábado para ter motivo para acusa-lo. Aqui é Jesus, percebendo a armação, que faz a pergunta sobre a conveniência da cura num dia de sábado; salvar a vida ou destruí-la para assegurar a observância impecável da lei. Não recebendo uma resposta Jesus lança um olhar sobre todos, quer dizer, tirando suas próprias conclusões, cura a mão paralisada. Os adversários se encheram de raiva, sentindo se despistados, discutiam entre si sobre o que fariam contra Jesus.

4. No episódio de hoje, vimos que a decisão para eliminar o rabino de Nazaré que ameaçava o sistema foi tomada. O que vem em seguida é a história de como esta decisão foi executada. Ao curar o homem da mão paralisada, Jesus evidencia mais uma vez sua opção pelos necessitados diante dos esquemas mentais e sociais que dominavam a religião e as demais instituições e lucravam das carências dos fragilizados.

É difícil não notar a presença desta mentalidade nas religiões e outras instituições hoje, especialmente na era pós-golpe no Brasil; a aliança entre os interesses econômicos nefastos, um judiciário parcial que opera atrás de uma fachada hipócrita de combater a corrupção, com a imprensa tradicional e o legislativo, apadrinhando um executivo que substituiu o governo legítimo, claro “na forma da lei”. Essa aliança decretou a anulação da ideologia partidária que procurava transformar o sistema escravagista, montado desde o tempo de colonização, para libertar os as vítimas deste e a eliminação de suas lideranças!

Vivemos os momentos no processo de anulação desta ideologia e a eliminação das suas lideranças.

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