Jesus a Boa Nova para o século 21 (19)
Como matar Jesus?
1. Com o trecho que reporta a cura da mão paralisada (cf. Mc
3,1-7a) encerra-se um primeiro bloco no texto de Evangelho de Marcos (cf. Mc
1,21-3,7a). Este bloco exemplifica a práxis de Jesus de Nazaré, quer dizer,
suas atividades em benefício dos mais sofridos, fragilizados e excluídos assim
como sua maneira de interpretar as leis e tradições para a mesma finalidade,
que deixavam as elites dos seus dias mortalmente angustiados e por isso mesmo
decidiram mata-lo (Mc 3,6).
Vamos fazer uma breve descrição do episódio que levou os
poderosos tomar essa decisão sobre o Jesus de Nazaré. Outra vez, Jesus está na
sinagoga num dia de sábado. Havia aí um homem com a mão paralisada. O autor nos
informa que os representantes das elites estavam presentes, de olho para ver se
Jesus curava o homem num dia de sábado para poderem acusa-lo de infringir a lei
o sábado. Ciente da armadilha montada, o rabino Jesus pediu o homem para se
posicionar no meio, onde todo mundo podia ver-lhe, assim pondo em evidência necessidades
humanas que as autoridades devem atender com urgência.
Uma vez que o problema foi realçado, o rabino Jesus fez uma
pergunta crucial que tinha a ver com a observância tradicional do sábado. Seria
permitido fazer o bem ou o mal no dia de sábado; aplicar as leis em prol de salvar
uma vida ou para tira-la? Porém nada responderam os presentes, essa desumanidade
manifesta deixou o Nazareno irado. Ele lançou “um olhar de indignação” sobre
eles, ele ficou triste por causa da dureza do coração deles, contudo curou o
homem da mão paralisada. Logo que saíram daí, os fariseus procuraram os
herodianos e iniciaram uma consulta para arrumar meios de matar Jesus. Por sua
parte, Jesus retirou-se do local para a beira do mar.
É conveniente recordar aqui que noutro episódio, no início
deste bloco, o da cura do leproso (cf. Mc 1,40-45) o evangelista reportava que
Jesus ficou “irado” antes de estender sua mão, tocar no leproso para curá-lo.
Pelo que ele fez, Jesus desafia radicalmente os sistemas políticos, econômicos,
sociais e religiosos que procuram manter o povo excluído, fragilizado e
dominado para se manter no poder.
2. O texto de Mateus que nos conta deste episódio (Mt
12,9-15a) tem o mesmo esquema. A diferença é que são aqueles que tramaram contra
Jesus que fazem a pergunta sobre o cabimento de curar no dia de sábado. Na sua
resposta o rabino mostra que as leis, inclusive as da observância de sábado,
devem estar a serviço da vida humana. Para reforçar seu esclarecimento, ele citou
a prática comum de salvar os animais, que porventura caiam nos buracos, mesmo
no dia de sábado. Em seguida curou o homem da mão paralisada, o que levou seus
adversários fariseus furiosos, que viram seu domínio ameaçado, se reunir para
planejar um modo de matar Jesus. Sabendo disso Jesus se afastou daquele lugar.
3. O texto de Lucas (Lc 6,6-11) faz menção, especificamente,
da presença dos fariseus e dos doutores da Lei que observavam Jesus para ver se
ele curava no dia de sábado para ter motivo para acusa-lo. Aqui é Jesus, percebendo
a armação, que faz a pergunta sobre a conveniência da cura num dia de sábado;
salvar a vida ou destruí-la para assegurar a observância impecável da lei. Não
recebendo uma resposta Jesus lança um olhar sobre todos, quer dizer, tirando
suas próprias conclusões, cura a mão paralisada. Os adversários se encheram de
raiva, sentindo se despistados, discutiam entre si sobre o que fariam contra
Jesus.
4. No episódio de hoje, vimos que a decisão para eliminar o
rabino de Nazaré que ameaçava o sistema foi tomada. O que vem em seguida é a
história de como esta decisão foi executada. Ao curar o homem da mão
paralisada, Jesus evidencia mais uma vez sua opção pelos necessitados diante
dos esquemas mentais e sociais que dominavam a religião e as demais
instituições e lucravam das carências dos fragilizados.
É difícil não notar a presença desta mentalidade nas
religiões e outras instituições hoje, especialmente na era pós-golpe no Brasil;
a aliança entre os interesses econômicos nefastos, um judiciário parcial que
opera atrás de uma fachada hipócrita de combater a corrupção, com a imprensa
tradicional e o legislativo, apadrinhando um executivo que substituiu o governo
legítimo, claro “na forma da lei”. Essa aliança decretou a anulação da
ideologia partidária que procurava transformar o sistema escravagista, montado
desde o tempo de colonização, para libertar os as vítimas deste e a eliminação
de suas lideranças!
Vivemos os momentos no processo de anulação desta ideologia
e a eliminação das suas lideranças.