Exorcismo na sinagoga de
Cafarnaum
O primeiro milagre
de Jesus relatado por Marcos é o da cura de um homem possuído por um espirito impuro
na sinagoga de Cafarnaum (Mc 1,21-28). Milagre, de acordo com os dicionários, é
um acontecimento fora de comum e impactante. Aqui é necessário recordar o
caráter simbólico da linguagem bíblica. Nós
comentamos sobre o papel dos milagres de Jesus na instauração do Reino/Reinado
de Deus ao apresentar o bloco de texto de Marcos (1,21-3,35) que falam das
reações diversas geradas no meio da população pela atuação de Jesus na região
da Galileia e também da decisão das autoridades para matar Jesus. Aqui é
necessário dizer que há um campo vasto de estudar, interpretar e compreender
quanto a os milagres de Jesus reportados nos evangelhos para superar seu
entendimento superficial e poder viver suas implicações em nossa realidade
histórica.
Na sua vida pública já era o costume
de Jesus de Nazaré usar a palavra no dia de sábado na sinagoga do povoado onde
ele se encontrava. Seus ensinamentos já eram conhecidos e apreciados, pois
diferente dos doutores da lei, que geralmente repetiam as opiniões dos seus
similares para justificar o sistema dominador, o rabino de Nazaré fazia
interpretações das leis e dos costumes com autoridade singular para o benefício
dos mais fracos e sofridos, o que deixava todos maravilhados pela sua
singularidade.
Nessa ocasião
havia um homem possuído na sinagoga. Este começou a contestar a presença de
Jesus. O espírito impuro nele conhecia a identidade de Jesus e reclamava do
incômodo que ele causava. Jesus não cedeu à pressão que a polêmica gerou, mas
expulsou o espírito impuro com autoridade. Foi uma ação poderosa que gerou um
momento conflituoso e tenso, pois o texto disse que “o espírito impuro saiu
dele, sacudindo-o violentamente e soltando um grande grito”.
A ação poderosa de
Jesus causou grande surpresa na população, visto que era algo muito diferente e
inusitado. A população percebeu que Jesus usava sua autoridade para a promoção
da vida digna e livre para todos os seres humanos. De fato, a possessão pelos
espíritos impuros era algo que até tinha chegado a ser aceito sem
questionamento! Essa mentalidade tem seu paralelo na aceitação, quase
incontestada, do modelo neocolonialista na forma neoliberal como o único modelo
de organização socioeconômico no mundo globalizado por uma boa parte da
população em nossos dias. Qualquer um que pretende questionar a hegemonia deste
modelo vai receber muita publicidade, nem sempre favorável, a si próprio. É o
que aconteceu com Jesus de Nazaré; sua fama se espalhou em todas as partes, em
toda a Galileia.
O texto paralelo
deste episódio no Evangelho de Lucas (cf. Lc 4,31-37) tem o mesmo conteúdo, mas
com algumas pequenas diferenças nos detalhes. Lucas fala do homem possuído pelo
espirito de um demônio impuro, enquanto Marcos falava do homem com um espirito
impuro. Em Lucas, a expulsão do demônio causa espanto, em Marcos todos se
admiraram com o acontecido.
O significativo no
texto de Evangelho de Lucas é a colocação deste episódio. A cura do possesso
vem depois daquele momento de perigo da vida que Jesus correu na sinagoga de
Nazaré (cf. Lc 4,16-30). Lá Jesus apresentou seu manifesto político, interpreta
sua práxis à luz das palavras do Profeta Isaías 61, 1-2. Isto gerou animosidade
mortal numa parte dos seus ouvintes contra rabino Jesus e procuraram
chaciná-lo, porém ele segue seu caminho ileso, pois seus simpatizantes tinham
uma presença maior entre os presentes.
Dito isso, posso
afirmar que há necessidade de expulsar demônios nos dias de hoje. No entanto,
será que as peças teatrais montadas na televisão são exorcismos na realidade?
Parece-me que resistir à ideologia obscurantista em que “Uma ponte para o
futuro” (PMDB 2015) baseou-se para levar o Brasil a idade das trevas é expulsar
o espírito impuro em nossos dias!
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